top of page

OJUBÓ — O segredo do arquivo pertence à mãe negra

Foto do escritor: Projeto AfrotonizarProjeto Afrotonizar

A mãe negra é a própria forma do estudo negro. A maternidade negra é o estudo negro, como carne, como força, como sensação, mas não como figura. Ela é odiada porque vive uma forma de vida contrária a todas as estatísticas fodidas de um serviço sem mestre, sem maestria. Ao viver o estudo negro, como os subcomuns do próprio serviço, ela não é ela, embora carregue tudo, como um toque entre irmãs que sabem o que é servir, ministrar, curar.¹

Luiza Sacramento (Frekwéncia), Arquivo pessoal, 1999

Todo encontro é uma urgência. Todo encontro é uma dádiva. Quando nos juntamos, algo escapa. Algo precisa escapar, porque essa é a nossa forma de nos fortalecer. E por isso precisamos aprender a estar juntas também apartadas, por ser assim que resistimos ao capitalismo logístico, porque a individuação é uma estratégia da logística para conter a fugitividade. Então, estamos aqui, mais uma vez, onde a violência do relato nos obriga a produzir uma nova cena. “Que aparência têm os mundos em que os cativeiros já não nos comprimem”?² Como escapar do imperativo do aparecimento para ser livre? Como começar essa conversa que nos toca num lugar tão íntimo? Nossos corpos juntos produzem calor, e, ao mesmo tempo, amalgamam as coisas que não precisamos entender agora, mas que carregam o passado e o futuro, tempos e lugares que já habitamos, mas seguimos aprendendo a desejar.


Sessão de Estudo Negro/LEAC, 2024 — Frekwéncia e viníciux da silva durante pesquisa de arquivo na casa de Lohana Montelo, Rio de Janeiro, 2024

O tempo que tenho para escrever hoje é igual a cinco centímetros de comprimento por dois de diâmetro de uma vela branca de parafina. Quanto mais a cera desaparece em combustão, mais azul esferográfico se torna o papel, que antes de ser branco era uma monocultura de eucalipto. Às vezes as coisas são assim, monótonas e terríveis, como hectares de Eucalyptus grandis, esguios e repetitivos. Monótonas e terríveis, como ficar sem energia elétrica às vésperas do seu aniversário, porque o tiroteio da madrugada anterior explodiu o transformador do bairro, inundando a noite seguinte no mais profundo silêncio, oferecendo a luz da lua cheia e das estrelas. Nossas ancestrais sequer tinham tempo para escrever, mas acendiam velas e pediam por nós. A liberdade é uma experiência efêmera que conhecemos bem — mas eles não. Estamos destinadas a sermos livres?


Outro nome para a matéria foi o que encontrei quando minha pele e meu sangue se misturaram a uma amálgama de substâncias que não sabia nomear. Ao ver Elegbara dançar em volta da cumeeira, pude sentir os movimentos de rotação e translação do planeta Terra. Exu desafia a lei da inércia e viola o princípio da localidade da física clássica, que sugere que a informação não pode viajar mais rápido do que a velocidade da luz, pois Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que só jogou hoje”. Exu é o regente do emaranhamento quântico. Atenção ao movimento, é por meio dele que atravessamos vivas certos rituais.


Frekwéncia, “Corre gira para se assentar”, 2024

Um terreiro não é apenas o seu território, é a sua fundação e toda a comunidade que se organiza em torno dela. Foi assim que ela entendeu que se deslocar nem sempre era desejável, mas era possível. Assim como o som que, ao entrar em contato com o menor dos ossos do corpo de qualquer mamífero, vibra até encontrar outros lugares para habitar. Esse movimento já havia sido experienciado por quem veio antes dela. O que fazer quando a única coisa que se pode levar consigo é uma pedra?


Três pedras, três pedras dentro dessa aldeia

Uma é maior, a outra é menor

a mais pequena é que nos alumeia

(Ponto de Boiadeiro)


Como lidar com as rupturas e as quebras? Como manusear fragmentos? Devemos reconhecer que algumas dívidas devem ser pagas, mas como quitar o débito infinito da precariedade atribuída às vidas das nossas antepassadas, que se desdobra no nosso mover do agora? Como falar de um arquivo de gestos, cantigas e sensações, sem replicar os pilares do pensamento moderno? O arquivo pode ser uma pedra pequena que, por ventura, possa alumiar nosso caminho. Esse arquivo não é um documento. Esse arquivo é mais como uma dança. E ele também dança contra nós. Uma dança de tropeços. Uma dança interrompida por pequenos cortes na conversão do sinal de áudio analógico para o digital. Ninguém é perfeito, vamos improvisar!


Certidão de casamento dos bisavós paternos de Frekwéncia, registrada em Nossa Senhora das Dores, 2º Distrito de Barra do Piraí–RJ (1942), em negativo. Documento encontrado no FamilySearch em 22 de janeiro de 2024.

Uma das premissas do estudo sobre o arquivo é a noção de que a palavra arquivo deriva do grego arkhé — como descreve Jacques Derrida: um conjunto de acontecimentos que ocorreram numa dada ordem social, podendo ou não ter ligação com a análise historiográfica.³ Sendo arkhé, o arquivo é também um motor da realidade, uma máquina de produção de sentidos e costumes que guiam determinadas comunidades. Nesse sentido, nossa maior dificuldade teórica, sugere Derrida, seria definir onde começa e onde termina o arquivo, bem como quem o comanda e delimita o acesso a ele. Na realidade das comunidades afro-brasileiras, a presença do arquivo se dá de tantas formas que é impossível descrever.


Mas o arquivo também está nos sacaneando. Nossa certidão de nascimento tem um erro de digitação. No campo do nome do pai, o escrivão começou: “Maru, digo, Marcus…”. As reticências substituem o nome do nosso pai, para preservar a sua identidade nesse texto. Mas está lá até hoje, no papel amarelado, que depois nossa mãe mandou plastificar: “Maru, digo…”. Isso abriu espaço para imaginação, assim como qualquer vírgula faz a diferença. Por que o escrivão não pegou outro papel? Por que ele não apagou o erro? Por que nosso pai não reclamou? O fato é que nossos pais colocaram um nome tão grande na gente que é por isso que exigimos que ele seja escrito da maneira correta. Outras vão nos procurar no arquivo.  Outras não vão nos encontrar. Tudo bem se você quiser mudar de nome. Esse não é o ponto. O ponto é haver momentos em que realizamos experimentos honoráveis sobre o mundo e gostaríamos de não sermos apagadas, como naquele dia que nosso nome não apareceu na divulgação da exposição em que éramos as artistas também. CTRL+C, CTRL+V.


viníciux da silva, Arquivo pessoal, 2000-2005.

“Uma cidade não é um lugar de origens”. O pertencimento sempre foi uma questão importante para aquelas que vivem “nesse espaço inexplicável” que é a diáspora. Pois nossa herança é viver com “a sensação de não se estar aqui ou ali, de nenhuma saída ou entrada.” Vivemos a experiência que Dionne Brand (2022) nomeia de Porta do Não Retorno: “A porta existe como uma ausência. Uma coisa sobre a qual, na verdade, nós não sabemos, um lugar que não conhecemos” (p. 39). Um discurso que não podemos produzir, pois raramente se pode encontrar vestígios dessa história.


Arquivos são experiências. Nossas famílias são famílias matriarcais. Esse corpo, pensado, à luz de Hortense Spillers, por Denise Ferreira da Silva (2023) como o “corpo cativo ferido na cena de subjugação”, habita sempre um entre-lugar que nos coloca como desafio a tarefa primordial de encontrar pertencimento. E todos os espíritos dessa história sabem bem disso. Afinal, os mortos nos ouvem e, muitas vezes, não sabemos sequer seus nomes. Alguns chamam de feitiço essa herança, eu prefiro chamar de arquivo.


Durante o Festival de Yemoja, em Ibara, Abeokuta, mulheres negras usam a água do riacho Omida, consagrado a Yemoja, para dar aos bebês um banho ritual que os protegerá contra a mortalidade/Abiku. Fonte: Babatunde Lawal, 1958.

Esse arquivo é, também, um arquivo estético. Um exemplo. Para os iorubá, a palavra “Ọmọlẹwà” — que significa “prole é beleza” — é um nome pessoal comum, pois suas percepções da estética estão profundamente ligadas ao papel social da Ìyá, a mãe negra. A “Ìyá não é apenas a doadora do nascimento; Ìyá também é uma co-criadora, uma doadora de vida, porque Ìyá está presente na criação”. Nesse sentido, a constituição fenomenológica do arquivo está profundamente imbricada com as percepções estéticas das circunstâncias que produzem esse arquivo. Similarmente, em Ordinary Notes (2023), ao falar sobre sua mãe, Christina Sharpe relata que


Quanto estava próxima à morte, minha mãe ainda fazia à mão os enfeites de Natal. [...] O amor de minha mãe pela simetria: até os alfinetes tortos têm um lugar só para eles. Foi uma surpresa encontrá-los novamente, como a beleza é surpreendente. E mais, de que é feita a beleza? Atenção, sempre que possível, a um tipo de estética que, sempre que possível, escapou da violência, mesmo que seja só o arranjo perfeito de alfinetes.¹⁰


Do que é feita a beleza senão da “intensa sensação de sermos atraídos pela animadora força da vida?”¹¹ O arquivo é um lugar de reunião. Esse arquivo é perigoso, ele pode nos fazer querer viver. E ele nos coloca uma pergunta: e se considerarmos a ação de elementos invisíveis na constituição da nossa relação estética (sensorial) com o mundo?


Frekwéncia, Atravessando Portais 0.1, 2024

O programa performativo da artista Frekwéncia, “Atravessando Portais” —  composto por performances/apresentações musicais que refletem sobre as histórias de sua família — se apropria da força do arquivo de sua família para considerar a ação de elementos invisíveis em planos fugitivos e na constituição do próprio arquivo. Trata-se de uma prática composicional especulativa que busca escrever contra o arquivo, junto aos antepassados,através do som e suas vibrações irreprimíveis, na força de Iya Mi Oyá, Orixá que transita entre os mundos dos vivos e dos mortos e é sabedora das nove dimensões existenciais: orun-ayié, ou tudo aquilo que aconteceu, acontece e acontecerá aqui e agora. Juntas, aprofundamos nossa pesquisa através do projeto Sessões de Estudo Negro, vinculado ao LEAC, baseando-nos na leitura de autoras do pensamento negro radical. Transformamos essa pesquisa na performance “Atravessando Portais 0.1”, apresentada no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, no âmbito do Programa Hélio Oiticica — 2ª Edição.


O arquivo é a espiritualidade. Quem relata essa história? Como dar conta de um arquivo de heranças espirituais e sabedorias de terreiro? A experiência espiritual negra, sempre mediada pelo corpo, emerge como uma forma de acessar o excedente da documentação histórica, refletindo o corpus infinitum como imagem do arquivo, marcando o que escapa, refrata e ecoa, como uma expressão da “afetabilidade incompreensível” da negridade¹², a anunciar “uma variedade de possibilidades para o conhecer, o fazer e o existir. Desde fora de sua inscrição como objeto, outro, ou mercadoria”.¹³


Não há linearidade temporal na memória histórica do colonizado mas uma espécie de caos no qual ele cai e rola; eis por que eu digo sempre que “nós precipitamos as rochas do tempo”. Em nossa memória coletiva, um evento pode se desdobrar hoje e ser imediatamente rejeitado em nosso inconsciente coletivo, como ele pode ter se passado a quatro séculos e ressurgir com uma luz e uma força extraordinárias.¹⁴


Nina se sentou no Aterro do Flamengo em um dia absolutamente vazio. Silencioso. Apenas o eco dos pássaros. Efêmero momento de prazer reverberando no tempo e no espaço. A quem pertence o ócio? Naquele dia, ela não tinha nada para fazer, nem um prato de feijão para quebrar na cabeça do neto pirracento da patroa. Nos raros momentos de folga da função de doméstica, voltava para casa com o filho pequeno para visitar a sua família. Aos sete anos, foi obrigada a fazer uma escolha, trabalhar na roça ou cuidar do fio dos outros. Na maior parte das vezes, preparava comida para vender na vizinhança de classe média alta da região. Mas naquele dia não lhe faltava comida, nem desejo de comer. Na verdade, nunca lhe faltara. Ela existiu enquanto alimentava e era alimentada. O alimento se tornou sua força.


Dia de colher batata-doce na roça e assar para a festa de caboclo. Cálcio, potássio, magnésio. Todo organismo necessita dos minerais. O seu retorno era sempre muito aguardado pela pequena comunidade do roçado, na Serra do Vulcão, em Nova Iguaçu. A parentada toda reunida, a assistência arrumada para a cerimônia. O terreiro era liderado por seu Tio Antônio, que abria a gira com toques e rezas. Aquele angoleiro sabia como evocar a presença dos ancestrais. Encantados, Caboclos, Pretos Velhos, Exus e Orixás. 


Perto do local onde Nina estava sentada, observando a quietude tectônica abaixo de seus pés, um oceano atlântico separava o momento em que um supercontinente aglutinava grande parte da massa terrestre. Na Pangeia, Rio de Janeiro e Luanda estavam a poucas milhas de distância. Ela largou todas as panelas e ferro de passar para trás e, no Aterro do Flamengo, em um dia silencioso, ela observou de longe o Pão de Açúcar. Como uma rocha formada nas entranhas da crosta terrestre teve impulso para vir à superfície? Milhões de anos, milhões de anos de abalos sísmicos, resfriamento de magma e quase nada de pressa. Alumínio, cálcio, sódio, potássio, magnésio.


Os maciços perturbam a ideia de controle. Não podem ser destruídos, esquecidos ou apagados. Está tudo aqui, tudo junto: sua voz e sua imagem. A velha me chamou, embora não fosse tão velha assim. Apenas o tempo suficiente para se tornar parte de cada célula do meu corpo. Ela está falando comigo agora. Contou-me que os mortos habitam uma floresta sagrada, no Igbalé ou em Aruanda. No dia de sua morte, ela não sabia mais se era gente ou pedra. O segredo das quitandeiras existiu desde quando a Terra era uma bola de fogo a cozinhar os seus próprios sonhos. O segredo da vida. O segredo da morte. O segredo do porquê permanecemos vivas apesar da morte. Awô! Todo arquivo é um alimento.


Composição de texto e imagem para a colagem “Corre gira para se assentar”, 2024
 

OJUBÓ é um programa colaborativo de pesquisa e criação entre viníciux da silva, Frekwéncia e Lohana Montelo que investiga como as memórias e arquivos de famílias e comunidades negras podem ser ativados por meio de práticas criativas e colaborativas. O termo “ojubó”, que significa “olhos de adoração”, no iorubá, refere-se ao espaço coletivo onde comunidades cultuam os orixás e honram sua ancestralidade. “O segredo do arquivo pertence à mãe negra” é um dos desdobramentos das pesquisas desenvolvidas pelo projeto no contexto do LEAC, onde trazemos ao público uma reflexão sobre arquivo, parentesco, espiritualidade e negridade.


A #TeiaAfrotonizar é uma iniciativa da plataforma Afrotonizar que se dedica à difusão e promoção de artistas e agentes criativos racializados, especialmente aqueles situados nos eixos Norte e Nordeste do Brasil. Através de ações que ampliam o acesso às narrativas e práticas artísticas contracoloniais, a Teia conecta talentos, ideias e projetos, criando pontes para fortalecer a cena contemporânea. A Teia Afrotonizar reflete o compromisso da plataforma em expandir horizontes, valorizar histórias e transformar a maneira como narrativas racializadas são percebidas e celebradas no Brasil e além.


 

¹ Harney, Stefano; Moten, Fred. Tudo Incompleto. Trad. Victor Galdino e viníciux da silva. São Paulo: GLAC edições, 2023, p. 136.

² Mombaça, Jota. Não vão nos matar agora. Rio de Janeiro: Cobogó, 2021, p. 67.

³ Derrida, Jacques. Mal de Arquivo: uma impressão freudiana. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. Ser tomada pelo mal de arquivo significa ser tomada por uma paixão, um desejo de procurar o arquivo onde ele se esconde, um desejo irreprimível de retorno à origem.

⁴ Brand, Dionne. Um mapa para a porta do não retorno: notas sobre pertencimento. Trad. Jess Oliveira e floresta. Rio de Janeiro: A Bolha Editora, 2022, p. 79.

⁵ Ibid., p. 34.

⁶ Ibid., p. 34.

⁷ A Porta do Não Retorno é um monumento na cidade de Uidá, no Benim, construído no local de embarque dos escravos, que eram enviados para o continente americano. Em sua placa está escrito: “simboliza a última etapa da maior deportação jamais conhecida na humanidade — o comércio negreiro”. Eles sabiam que dali não haveria retorno. E é ali que todo dia 10 de janeiro, desde 1992, dia declarado feriado no Benim, ocorre a grande festa do culto vodum, reabilitado como a religião majoritária dos beninenses e de grande parte do continente africano.

⁸ “O corpo cativo ferido na cena de subjugação, ao relembrar a vida — na cena ética (como uma pessoa sem dignidade) e na cena econômica (como trabalho sem produtividade) — torna a carne tanto ética quanto economicamente negativa, ou seja, ∞-∞ ou corpus infinitum. Por essa razão, ela representa mais uma ameaça ao modo de pensar que presume e necessita de uma imagem da existência obtida pela identidade e pela unidade.” (Ferreira da Silva, 2023, p. 257–258). Ferreira da Silva, Denise. Unpayable Debt. Londres: Sternberg Press, 2022.

⁹ Oyěwùmí, Oyèrónkẹ. “Matripotência: Ìyá nos conceitos filosóficos e instituições sociopolíticas [iorubás].” In: Oyěwùmí, Oyèrónkẹ. What Gender is Motherhood? Trad. para uso didático por wanderson flor do nascimento. Nova Iorque: Palgrave Macmillan, 2016, capítulo 3, p. 57-92.

¹⁰ Sharpe, Christina. Ordinary Notes. Nova Iorque: Farrar, Straus and Giroux, 2023, p. 36.

¹¹ Hartman, Saidiya. Vidas rebeldes, belos experimentos: histórias íntimas de meninas negras desordeiras, mulheres encrenqueiras e queers radicais. Trad. Floresta. São Paulo: Fósforo, 2022, p. 236.

¹² Ferreira da Silva, Denise. Dívida Impagável. Trad. Amilcar Packer. São Paulo: Casa do Povo, Oficina de Imaginação Política, 2019, p. 72.

¹³ Ibid., p. 86.

¹⁴ ARTIÈRES, Philippe. “‘Solitaire et solidaire’. Entretien avec Édouard Glissant”. Terrain (Poésie et politique), nº 41, sep. 2003. Paris: Éditions du patrimoine, 2003, pp. 09-14

163 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

AMOR-TECIMENTO

Comments

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
bottom of page