Viníciux da silva, Salvador
11/01/25 08h00
Como estamos cuidando umas das outras quando o toque, além de político, é um cuidado?
AMOR-TECIMENTO, de Renata Felinto, promove um encontro entre o corpo e a alma, possibilitando-nos uma experiência de cura, toque e reconhecimento. O título se compõe a partir da relação entre o amortecimento dos impactos do racismo na vida negra e a tessitura do amor, é um trabalho que propõe a construção de novas relações possíveis, mediadas pela cura e pelo cuidado.
Ecoando bell hooks — “Quando conhecemos o amor, quando amamos, é possível enxergar o passado com outros olhos; é possível transformar o presente e sonhar o futuro. Esse é o poder do amor. O amor cura.” — AMOR-TECIMENTO nos convida e nos pergunta: é possível, a nós pessoas negras-brasileiras ou negras do mundo, preparar nossos corpos para termos e sermos amor como prática da nossa liberdade e cura da nossa alma?
A proposição de Felinto opera, inicialmente, a partir da escuta, onde as pessoas compartilham suas experiências traumáticas com o racismo. Em vez de devolver a violência, trabalha-se o reconhecimento e o afeto. A sociedade brasileira contemporânea não tem dispositivos (todos foram ocultados) para resgatar afeto em relação a pessoas negras. Então, o trabalho propõe que uma forma de enfrentamento do racismo no Brasil é nos munirmos de autoamor e de amor por quem, como nós, sofre os mais diversos tipos de violência, restaurando nossa importância como pessoa, rompendo com uma ciclicidade de auto-ódio, nos municiando de afeto.
Segundo Felinto, a elaboração de AMOR-TECIMENTO se inicia a partir das reflexões acerca do passado escravista que se instaura nas Américas dos séculos XVI ao XIX, que deslocou forçosamente populações africanas para este território, que inclui o que chamamos de Brasil, tendo por uma de suas premissas de controle e de manutenção da subordinação a alimentação de rivalidades entre diferentes grupos étnicos.
Assim, ainda que lide com a herança escravista do nosso território, AMOR-TECIMENTO promove um encontro entre corpo e alma, apresentado na forma de uma experiência artística de cura, para repensar o modo como as pessoas negras são vistas e recebem afeto. Amor-tecer requer olho no olho, pele na pele, temperatura na temperatura, cheiro no cheiro.
AMOR-TECIMENTO se configura como um happening afetado pela noção de inconsciente coletivo cunhada por Carl Gustav Jung e, principalmente, de que o conhecimento produzido por uma população pode somar-se ao conhecimento de outra população sem se aniquilarem ou sem que uma aniquile a outra.
Nas palavras de Renata Felinto:
Alguém já lhe olhou nos olhos hoje?
Alguém já lhe olhou nos olhos de forma que seu coração foi tocado?
É possível, a nós pessoas negras-brasileiras ou negras do mundo, preparar nossos
corpos para termos e sermos amor como prática da nossa liberdade e cura da
nossa alma?
“Quando conhecemos o amor, quando amamos, é possível enxergar o passado
com outros olhos; é possível transformar o presente e sonhar o futuro. Esse é o
poder do amor. O amor cura” (bell hooks).
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