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Embaralho
Andrielle Mendes

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Foto 1 O eremita.jpg

"O Eremita - Ocultação"
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2021

"Os pés no limiar da porta representam o meu avô materno, que fugiu de casa na juventude e ao retornar, décadas depois, se casou com minha avó. Minha mãe chegou na família um tempo depois, trazida com semanas de vida, por ele. Eu nunca o conheci."

Foto 2 - Rainha das Copas.jpg

"Rainha de Copas"
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2021

"Minha avó materna adotiva era a única mulher da família que me dava dinheiro - talvez porque fosse a única que tinha. Todo início de mês ela separava algumas notas e moedas para mim. E dizia: “não diga a sua mãe. Compre algo para você”."

Foto 3 O Julgamento.jpg

"O julgamento - Mudança de posição, renovação, resultado"
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2021

"Eu tinha cinco anos, quando ela se recusou a ir à festa das Mães na escola. O que as outras crianças diriam, quando eu chegasse na escola sem a minha mãe? No fim, ela decidiu ir. Mas se negou a chegar um pouco mais perto na hora da foto [Por meio de uma técnica que chamo de colagem emocional, retirei com a tesoura os espaços e aproximei quem estava separado]."

Foto 4 O louco.jpg

"O louco – intoxicação"
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2021

"Eu queria desaparecer, quando era criança. Essa vontade se tornava mais aguda durante as crises de minha mãe. Lembro de uma vez comer uma folha de Comigo Ninguém Pode, mesmo sabendo que a planta era tóxica. Eu tinha uns sete anos."

Foto 5 Enamorados carta revelada.jpg

"Os enamorados / Dois de copas: provações superadas, amor, união"
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2021

"Dizem – e eu acredito – que herdamos de nossa linhagem feminina suas memórias. Às vezes, até sentimos o que elas sentiram. Desamparo, rejeição, auto-ódio, medo. Custei a aprender que não herdamos apenas memórias de dor; herdamos também suas estratégias de sobrevivência, práticas de autocuidado, segredos de cura. Mães/mãos negras muitas vezes nos ofertam tudo o que têm, mesmo que pareça pouco."

Foto 6 - Estrela.jpg

"A estrela - Perda, roubo, privação, abandono, embora outra leitura sugira esperança e perspectivas brilhantes no futuro."
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2021

"Eu gestei duas vezes. E para cada gestação, fiz um diário. Mas não pari nenhum dos meus filhos com vida. Todos "viraram" estrela."

Foto 7 Hierofante.jpg

"Hierofante - misericórdia e bondade; o homem (e/ou a mulher) a quem o consulente recorre."
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2021

"Acender uma vela branca toda sexta-feira para conduzir até a luz aqueles que estavam na escuridão foi ofício que aprendi com minha mãe e ela com a mãe dela. Eu achava que, acendendo velas, servia aos outros. Mas o tempo todo estava servindo a mim mesma. Que a luz, minhas mães e minhas filhas, sempre encontre um meio de nos achar."

"Embaralho" é uma série fotográfica criada na tentativa de desembaralhar imaginações de dor e memórias de cura entre as mulheres que me precederam e que me sucederão. Realizada a partir de cartas do Tarot Smith-White, a série retrata a busca por me organizar desde dentro através de fotografias de álbuns da família. O nome embaralho faz uma referência direta ao tarot e indireta ao fato de algumas das imagens saírem borradas, com os signos meio embaralhados, nesse (des)equilíbrio entre o transparente e o opaco, incapturável. A ideia surgiu, quando minha irmã me convidou para uma consulta ao Tarot de Marselha. Ao fim da consulta, a recomendação de confiar na vida veio acompanhada de um presente: o Tarot de Smith-White. No dia de materializar o projeto, intuí de tirar três cartas para representar minha relação com a minha mãe, única ‘ancestral’ de toda a minha linhagem feminina que eu conheci. Eu havia acabado de ler um livro de Audre Lorde e quando virei aquelas cartas aceitei em meu coração que: “minha mãe me ensinou a sobreviver desde muito cedo com seu exemplo. Seus silêncios também me ensinaram o que era isolamento, fúria, desconfiança, autorrejeição e tristeza. Minha sobrevivência depende de aprender a usar as armas que ela me deu, também, para lutar contra essas coisas dentro de mim, inominadas. E a sobrevivência é o maior presente do amor. Às vezes, para as mães negras, é o único presente possível”. Essa série fotográfica é uma oferenda a todas as mulheres racializadas que aprenderam, ainda na infância, que amor às vezes é poder dizer: - “sobrevivi”.

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