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Confluências e fabulações líquidas

Foto do escritor: Projeto AfrotonizarProjeto Afrotonizar

Atualizado: 8 de jan.

Viníciux da silva, Salvador

14/12/24 22h49


“Se as águas doces do Brasil podem chegar à África pelos céus, também a sabedoria de nosso povo pode nos alcançar no Brasil através dos céus.” 

— Nêgo Bispo


“E se o pensamento começasse com a presunção da infinidade e da implicação radical?” Como“lançar-se ao trabalho (seja ao trabalho criador, seja ao produto)” para “identificar e dissolver as operações da separabilidade na delimitação da posição do sujeito transparente”? Pois confluir é, também, uma práxis, um modo de fazer as coisas e de praticar o estudo negro para experimentar formas improvisacionais de socialidade. E tudo que conflui, conflui ao nível quântico, na implicação radical.

O programa pedagógico do Afrotonizar.Lab se orienta a partir do “mapeamento das feridas coloniais e das práticas de cura”, constituindo uma relação profundamente implicada entre pesquisa e/como criação e vice-versa. Em novembro de 2024, abrimos a exposição coletiva “Confluências e fabulações líquidas” (no Museu de Arte da Bahia), como um convite para mergulhar em uma zona fértil entre a memória ancestral e a criação de futuros emancipados. Aqui, a arte se torna um gesto curativo, que reimagina nossa presença no mundo através da incorporação de elementos como água, terra, ar e fogo. Cada obra propôs romper com a gramática ocidental e, juntas, nos guiaram em uma navegação real-imaginária rumo à liberdade.



Foto: Luan Teles

Sob a coordenação geral de Naymare Azevedo, curadoria de Adu Santos e coordenação pedagógica de Cíntia Guedes, a exposição se propõe a acionar outras possibilidades de imaginar o mundo através das obras dos artistas. O Afrotonizar.Lab tem como proposta criativa ativar outras práticas artísticas e curatoriais através do exercício imaginativo coletivo. Durante o período de imersão, os artistas residentes experimentaram as tecnologias que surgem através do encontro, da ativação da memória e da intuição. Esta exposição é um gesto coletivo de contra-colonialidade e de questionamento do status quo da branquitude, onde a criação se torna um ato de resgate, continuidade e transcendência.

Fotografia de Nêgo Bispo

Profundamente inspirada nos ensinamentos de Nêgo Bispo que, assim como nós, não imagina um mundo. Ele fala de um mundo, do seu mundo quilombola, que dialoga em equivalência com os demais mundos. Conceito central para a plataforma Afrotonizar, a confluência de Bispo trata da lei que rege a relação de convivência entre elementos da natureza e que ensina que “nem tudo o que se ajunta se mistura”, mas pode confluir para abrir novos caminhos na coletividade.

E foi em torno dessas confluências que 16 artistas negros se reuniram em Salvador, um dos maiores berços da cultura afro-brasileira, para criar, refletir e transformar. Não se questionou apenas as narrativas coloniais, mas também iluminou caminhos para novas possibilidades nas artes negras. 


Foto: Luan Teles

Momentos marcantes incluíram as trocas inspiradoras marcam essa profunda imersão em histórias compartilhadas e sonhos coletivos, ampliando perspectivas sobre ancestralidade, ética e estéticas negras.



Foto: Luan Teles

Cada obra criada é um testemunho dessa jornada coletiva, uma celebração da memória, da resistência e da criatividade que pulsa nas veias da diáspora africana. Como pontua Bispo, “também a sabedoria de nosso povo pode nos alcançar no Brasil através dos céus.”




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